domingo, 30 de maio de 2010

Os resilientes do "Ibson"


O Experimento parece que se encerra, seguimos para uma nova fase. Ontem, passamos pelo processo de perscrutar as vivências. De fato, gostaria de expressar os meus delírios desse tão certo e incerto trabalho em grupo. Teatro é coletivo, se faz mediante estudo e prática e como sabemos, todos, é quase como a vida que " não passa de uma história cheia de som e fúria contada por um louco significando nada".






O cansaço tomou alguns de nós, eu mesma fui levada por uma languidez e um irritadiço humor. Não somente pelas horas que passaríamos debaixo do julgo da avaliação, mas muito pela má vontade de rever uma “coisa”, aquela coisa que incomoda.

Fui e sou do “Ibson”, aquele sexto grupo pra lá de desgovernado, cheio de contradições e com um entusiasmo latente. Desde as primeiras horas do dia, senti um receio de reviver as fagulhas de uma história tão intensa, fiquei constrangida com a ausência de pessoas fundamentais para a reflexão da coisa em si e que em si mesmas carregaram também as contradições que tanto apontamos.

Culpados, claro que tentamos encontrar. É quase um movimento natural procurar entender o que ou quem conseguiu desestabilizar o processo. Eita palavrinha repetida inúmeras vezes: PROCESSO. Não se referia ao romance de Kafka - em que uma personagem acorda, é presa e acaba num PROCESSO interminável e difuso. 

Não cometemos nenhum crime, porém devo admitir que me senti, muitas vezes, em uma espécie de incompreensível julgamento: ora como  acusação, ora como defesa e ora como ré. Toda essa contradição faz parte daquilo que discutimos: COMPROMETIMENTO. E o que é se comprometer? Se entrelaçar? Se doar?

Ao passar das horas, o mal-estar se dissipou, escutei, não pela obrigação com a escola ou com a pedagogia, escutei pela forma como se construía um coletivo naquelas reclamações, apontamentos e dissabores. Algo transpassou a dura casca e penetrou em minha sensibilidade, vi artistas, que apesar de esgotados e tristes, demonstravam união e coesão.

Percebi, na prática, aquilo que o Luís Cláudio transmitiu em sua primeira aula na Dramaturgia: “O teatro nos tempos presentes define-se inovadoramente por sua capacidade de resistência e de resiliência”.

Resistir, mas resistir a quê? À desterritorialização, à homogeneização da cultura, ao esquecimento, aos fundamentalismos, à hegemonia do capitalismo e da globalização, à espetacularização, etc. No entanto, resistir também é deparar-se com a pressão interna e suplantá-la: é superar a falta de diálogo, as contradições internas e o não alinhavar.

O “Ibson” demonstrou que o teatro tem um caráter de RESILIÊNCIA: a capacidade humana de passar por experiências adversas sucessivas, sem prejuízo para o desenvolvimento. E se é feito de artistas, o teatro, artistas somos RESILIENTES ao quadrado!

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